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Controle e Descontrole

Um ensaio sobre os limites do amor incondicional

Eu sempre desconfiei do que é absoluto. Quem me dera fosse por valores científicos de questionar autoridades ou, até, pela própria defesa do indefinido. Na verdade é bem mais simples: cada vez mais tem se tornado senso comum questionar estruturas autoritárias, formas de opressão à minorias ou poder absoluto para poucos. Mas por que os receios relacionados a estruturas de poder não alcançam, com o mesmo rigor, tópicos como o amor incondicional?

Talvez a construção rígida de expectativas em relações de parentesco e o machismo estrutural tenham sido fatores relevantes para a manutenção da mesma percepção de obrigatoriedade do amor em certos laços. Tanto que, mesmo na contemporaneidade, a idealização do amor incondicional, principalmente quando apoiada nas concepções de família e fraternidade, ainda prospera, em contraste com outras imagens — inclusive a de amor romântico — também pertencentes a um cenário de relações inconstantes (ou líquidas, citando Zygmunt Bauman).

Ainda com Bauman, é importante destacar que o amor incondicional, como uma face do amor romântico, também sofreu um enfraquecimento. Um enfraquecimento contraditório, uma vez que é fundado na facilidade de se romper esse laço — não deveria ser permanente? — . Mas esse enfraquecimento ocorre de forma a ressignificar o amor incondicional. Justamente neste contexto de enfraquecimento das relações, o amor incondicional toma destaque como forma de oposição às dinâmicas líquidas. É a transição: o que antes tinha o foco na estabilidade, agora, procura se constituir na sustentabilidade.

E, como todo tipo de maturidade, essa transição é fomentada pelas turbulências dos diversos perigos que sua forma original carrega. Nas relações de tolerância absoluta, mesmo que recíprocas, são permitidos abusos difíceis de se controlar. Pode ser de forma sutil ou descarada, mas eles tendem a aparecer. E não é questão de boas ou más intenções. Se você tem fortes restrições quanto a definição explícita de limites, o padrão se tornará ignorar os limites individuais e sobrepô-los com decisões coletivas. E aqui entram os desequilíbrios: até que ponto estas decisões contemplarão os envolvidos em sua totalidade? Até que ponto a necessidade de manter um relacionamento sob controle não vai ofuscar necessidades e identidades?

Desde que eu passei a ver o “estar no controle” como uma forma de dizer que eu estava atualizado e em sintonia com alguma situação, eu comecei a valorizar muito esse estar no controle. Seja numa tarefa, num relacionamento, ou na minha vida financeira, me pareceu saudável. Para mim, estar no controle não era uma questão de poder impor interesses próprios; era ter meios de perceber o estado de uma situação e, assim, atuar de acordo. Mas a forma como essa concepção é construída conta com dois pilares: a percepção e a reação — E os dois têm lacunas expressivas quando se trata de sustentabilidade emocional.

Eu não realmente pensava na etimologia — nem sequer nas definições — da palavra controle até, já nas primeiras aulas de administração, eu ser inundado de métodos e formas de obter o muito desejado pelos métodos de gestão. Mas, evidente, são modelos pensados para organizações. A tradução para alguns contextos pode se tornar desastrosa. Pelo menos se não houverem certos cuidados. Eu demorei um tempo para perceber isso.

Se existem barreiras para a percepção ou para a reação, não é exagero dizer que se perde o controle (ainda mais com essa definição gerencial da palavra). A leitura do ambiente depende, principalmente, da abertura das pessoas, elas precisam se permitir estarem vulneráveis à interpretação. Uma vez que se analisa incorretamente o momento, as reações possíveis já não serão consolidadas em algo real.

Além desses cenários, a resposta àquela situação pode exigir um distanciamento emocional, seja para lidar com ressentimentos ou para trabalhar expectativas. Não tomar decisões mergulhado em emoções — em euforia, ira ou melancolia — , é essencial para evitar arrependimentos. Não que devêssemos evitar emoções. Elas têm um propósito. É importante reconhecer para que cada emoção serve para tomar decisões mais lucidas e assertivas com elas, não apesar delas.

O controle é, nessa projeção, uma forma de manutenção de conexões através de um processo contínuo de alinhamento, posicionamento e realinhamento. Quando vindo das duas partes, esse controle pode indicar o grau de relevância que se dá para a relação.

É difícil imaginar um controle bilateral sem assumir uma concepção como essa. Porque, diferente do controle como imposição, ela cria obstáculos para mudar as atitudes do outro, tendendo a tomar para si as responsabilidades do relacionamento. Como uma via de mão dupla, equilibra e aproxima. Mas, ainda nessa concepção, quando unilateral, o controle não foge da ideia de imposição.

É uma maquiagem para o mesmo controle que eu já conhecia. Uma interface de poder sobre o outro, mais distanciadora e metodológica. Mesmo estando refém de uma situação assim, em que não há abertura para variações de protagonismo, a relação, com todos os danos e atritos possíveis, é comumente vista como um favor que o controlador estaria fazendo — como estar te poupando do fardo de se envolver — . Pela nossa natureza, é difícil perceber e aceitar quando se está numa situação tóxica. Ter somente relações saudáveis de controle não é algo que está no nosso controle. Mas manter elas por amor (desconsiderando aqui fatores externos à pessoa) é indiscutivelmente o melhor a se fazer? A ressignificação do amor incondicional vem pra isso.

Este novo amor é marcado pelo mesmo apelo que o amor romântico, em algumas das suas esferas, já possuía: a perda. É o platônico do desejar o que/porque falta; não a falta de amor, mas, de previsibilidade do futuro. Eu posso até estar em uma relação perfeitamente correspondida, mas eu nunca terei a garantia de que, em outros momentos e contextos, tudo permaneça assim — tal qual a premissa do amor incondicional — . O amor líquido é um sequestrador que se mantém como refém.

Construir uma relação fundada na ameaça de perda não é, de forma alguma, mais saudável. Mas a consciência dessa possibilidade é, para ambos os lados, balizadora de limites. É com o peso da perda que se mede a capacidade de negociação (logo também deve haver equilíbrio entre negociadores). Aí está a beleza da ausência: é controle através do descontrole. É preciso estar vulnerável a perder um laço para que se tenha uma relação mais próspera e equilibrada.

Assim, se os limites definidos forem ultrapassados, se já não houverem mais concessões a se fazer, se já não houver como ignorar, o fim será chamado. Ou como separação (se possível), ou como afastamento em uma forma de conexão mais suportável. Mas para onde vão os sentimentos que não deveriam ser ignorados? Como parar o amor em um relacionamento danoso?

Tentar evitar um sentimento só vai gerar frustração. Se permita sentir, mesmo que não faça sentido. Mas não permita que interpretem — inclusive você — como se isso fosse uma inconsistência no seu discurso: seja transparente nas suas decisões e, até se estiver difícil lidar com essa mudança (como muitas vezes é), na sua vulnerabilidade. O seu controle é com e para você. Mesmo que só se possa tê-lo para decidir o fim, busque dividir o controle. Porque, apesar do absoluto, laços consistentes são mais resistentes que os incondicionais.

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